Wednesday, May 2, 2012

2 de maio de 2012: Ano três

Há semanas, sinto um estado inconstante de melancolia
Estado indefinido... de repente, melancolia...
Na visita ao Iraque-Curdistão, mesmo com tanta coisa interessante acontecendo, me veio um vazio...
Ausência de comunicação... de um tipo especial de diálogo
Queria escrever sobre o que via, sentia e (não) entendia...
Escrever e mandar o texto para o seu e-mail
Tenho ainda na caixa de correio um arquivo especial que guarda muitas trocas de idéias...
Escrever, sempre escrever... era o que me dizia.

Bárbara, escreve mais!
Você pode contar o que viu, mas as palavras desaparecem no vento
Se escrever, a experiência fica, se propaga, se multiplica
Bárbara, você devia escrever mais sobre o que tem me contado...
Escreve sobre isso!
Onde você está agora? Conte!
Mas não me diga como foi a viagem,
Quando chegou, nem quantas horas esperou
Nem me descreva os quantitativos
Quero saber o que te impressiona...
O que te impressiona?




Agora? Me impressiona a consciência da falta...
O volume da ausência, o espaço do vazio...
Me impressiona que ainda existam lágrimas...
Me impressiona a riqueza e a intensidade das experiências partilhadas

Posso ouvir o telefone tocar de manhã cedo na casa de Santa Teresa
De manhã cedo? Sim... eu sabia que escutaria a voz rouca exclamar

Baaaaaaaaaaaaaarbara! (com o primeiro A esticado ao máximo possível)
Aqui é Boal... (como se eu não soubesse...)

Se estivesse no Rio, ligaria sempre, a cada dia
Para partilhar preocupações e idéias, para marcar reuniões,
Para avisar que havia enviado um novo artigo e esperava retorno urgente
Para contar alguma novidade ou repetir a última com alguma nova perspectiva...

Te acordei? (Sim, por certo, mas eu, por certo, responderia:) NÃO!
Claro que não!... (Invariavelmente, eu estaria disponível)

Estou preocupado com o CTO. (Sim, sempre...)
Temos que conseguir financiamentos, garantir os projetos...
Eu tive uma nova idéia... O que você acha? Preciso de uma reunião geral...

Dedicação, amor e carinho pelo CTO... foi incansável na luta por esse projeto.

Por isso não existe sentido na tentativa de amputar o CTO da história de Augusto Boal.
Demência... ilusão... absurdo lamentável!

Fora do Rio, depois de um dia de atividades, te escreveria, mandaria minhas impressões, dúvidas, certezas e intuições...
Na manhã seguinte, por certo, encontraria uma orientação... um retorno... uma opinião...

Que privilégio!

No Iraque-Curdistão, eu queria escrever sobre as diversas coisas que me impressionavam...
Queria enviar para o teu e-mail...
E ter  a certeza da resposta,
Da orientação, do retorno, das reflexões, das ponderações sinceras e estimulantes... mesmo discordando... estimulava.

Talvez por isso, 
Passados três anos, a ausência pareça ainda mais presente...
Nos temas que me desafiam... nas idéias que nascem... nas perguntas que se multiplicam...
Sei que você diria: Que bom!

Sigo refletindo sobre os temas que levantamos e desenvolvemos no CTO
Sigo tentando avançar...
Daqui dessa cidade sem mar... (você imaginava ser impossível que eu vivesse longe do mar... estou aqui... mas sempre visito o mar... claro!)
E de outras paragens mundo afora... sigo tentando avançar.

Como base, me alimento da ética e da solidariedade que aprendemos a partilhar sob sua orientação.
Sempre me pergunto o sentido de cada passo, busco considerar as críticas e as observações alheias.

Para muitos, sou “fundamentalista”.
Sim... inacreditável que esse termo seja usado entre praticantes de Teatro do Oprimido.
Mas é... é assim.
Também me classificam como purista e radical.

Como aprendi contigo que radical é quem vai à raiz das coisas...
Cuido com apreço de minha radicalidade.
Sim, as Raízes... sou feliz porque as tenho.
As asas? Ainda em desenvolvimento...

Com prazer, sigo sua orientação: é fundamental escrever!
Sou profundamente agradecida por tudo.

1 comment:

  1. me hiciste querer escribir más, sentir más, vivir más...gracias.
    macarena.

    ReplyDelete