Há semanas, sinto um estado inconstante de melancolia
Estado indefinido... de
repente, melancolia...
Na visita ao
Iraque-Curdistão, mesmo com tanta coisa interessante acontecendo, me veio um
vazio...
Ausência de comunicação...
de um tipo especial de diálogo
Queria escrever sobre o que
via, sentia e (não) entendia...
Escrever e mandar o texto
para o seu e-mail
Tenho ainda na caixa de
correio um arquivo especial que guarda muitas trocas de idéias...
Escrever, sempre escrever...
era o que me dizia.
Bárbara, escreve mais!
Você pode contar o que viu, mas as palavras
desaparecem no vento
Se escrever, a experiência fica, se propaga, se
multiplica
Bárbara, você devia escrever mais sobre o que tem me
contado...
Escreve sobre isso!
Onde você está agora? Conte!
Mas não me diga como foi a viagem,
Quando chegou, nem quantas horas esperou
Nem me descreva os quantitativos
Quero saber o que te impressiona...
Agora? Me impressiona a
consciência da falta...
O volume da ausência, o
espaço do vazio...
Me impressiona que ainda
existam lágrimas...
Me impressiona a riqueza e a
intensidade das experiências partilhadas
Posso ouvir o telefone tocar
de manhã cedo na casa de Santa Teresa
De manhã cedo? Sim... eu
sabia que escutaria a voz rouca exclamar
Baaaaaaaaaaaaaarbara! (com o primeiro A esticado ao máximo possível)
Aqui é Boal...
(como se eu não soubesse...)
Se estivesse no Rio, ligaria
sempre, a cada dia
Para partilhar preocupações
e idéias, para marcar reuniões,
Para avisar que havia
enviado um novo artigo e esperava retorno urgente
Para contar alguma novidade
ou repetir a última com alguma nova perspectiva...
Te acordei?
(Sim, por certo, mas eu, por certo, responderia:) NÃO!
Claro que não!... (Invariavelmente, eu estaria disponível)
Estou preocupado com o CTO. (Sim, sempre...)
Temos que conseguir financiamentos, garantir os
projetos...
Eu tive uma nova idéia... O que você acha? Preciso de
uma reunião geral...
Dedicação, amor e carinho
pelo CTO... foi incansável na luta por esse projeto.
Por isso não existe sentido
na tentativa de amputar o CTO da história de Augusto Boal.
Demência... ilusão...
absurdo lamentável!
Fora do Rio, depois de um dia de atividades, te escreveria, mandaria minhas impressões, dúvidas, certezas e intuições...
Na manhã seguinte, por certo, encontraria uma orientação... um retorno... uma opinião...
Que privilégio!
No Iraque-Curdistão, eu
queria escrever sobre as diversas coisas que me impressionavam...
Queria enviar para o teu
e-mail...
E ter a certeza da resposta,
Da orientação, do retorno,
das reflexões, das ponderações sinceras e estimulantes... mesmo discordando...
estimulava.
Talvez por isso,
Passados três anos, a ausência
pareça ainda mais presente...
Nos temas que me desafiam...
nas idéias que nascem... nas perguntas que se multiplicam...
Sei que você diria: Que bom!
Sigo refletindo sobre os
temas que levantamos e desenvolvemos no CTO
Sigo tentando avançar...
Daqui dessa cidade sem
mar... (você imaginava ser impossível que eu vivesse longe do mar... estou aqui... mas sempre visito o mar... claro!)
E de outras paragens mundo
afora... sigo tentando avançar.
Como base, me alimento da
ética e da solidariedade que aprendemos a partilhar sob sua orientação.
Sempre me pergunto o sentido
de cada passo, busco considerar as críticas e as observações alheias.
Para muitos, sou
“fundamentalista”.
Sim... inacreditável que
esse termo seja usado entre praticantes de Teatro do Oprimido.
Mas é... é assim.
Também me classificam como
purista e radical.
Como aprendi contigo que
radical é quem vai à raiz das coisas...
Cuido com apreço de minha
radicalidade.
Sim, as Raízes... sou feliz
porque as tenho.
As asas? Ainda em
desenvolvimento...
Com prazer, sigo sua orientação: é fundamental escrever!
Sou profundamente agradecida por tudo.
me hiciste querer escribir más, sentir más, vivir más...gracias.
ReplyDeletemacarena.